Autor: Jorge Monclar
Palavras chaves: A intenção narrativa do plano, ALFABETO AUDIOVISUAL, Anti-zenital, blog, contra plongée, jorge monclar, narrativa cinematografica, plano e contra plano, plongée
Hoje vou falar do enquadramento ou seja, do posicionamento da câmera no momento da filmagem do plano pretendido pelo Diretor.
Para obtermos uma precisão narrativa e descobrirmos um estilo próprio de narrar visualmente nossas histórias é preciso repassar alguns enquadramentos que fazem parte desta gramática centenária.
O alfabeto audiovisual compõe-se de planos ou enquadramentos, posições, movimentos de câmera e do uso da pontuação visual que é a utilização das figuras de linguagem.
Quando começamos a praticar a narrativa audiovisual temos a tendência de enquadrar e narrar todas as nossas idéias do ponto de vista e da altura do olhar humano. A narrativa audiovisual tem a sua gramática que evoluiu no mundo inteiro, nas mais diferentes cinematografias e culturas, tornando-se universal. Daí percebermos o que é “gramática audiovisual” e o que é “estilo narrativo” do cineasta.
Alguns princípios devem ficar claros: o olhar humano registra as ações da vida em sínteses narrativas, em pequenos trechos de olhar com os mais variados posicionamentos, alturas e tamanhos de quadro e assim o cérebro “edita” o que compreendeu. O discurso é visto fracionado e organizado em síntese no nosso cérebro. O mesmo faz um cineasta quando deseja contar uma narrativa audiovisual (sobretudo a ficcionada). Seleciona “Olhares”, trechos dramáticos em planos enquadrados, de alturas, posições, tamanhos e ângulos diferentes para poder provocar com precisão uma narração emotiva desejada da história que conta.
Examinando apenas alguns posicionamentos de câmera encontramos uma lista de elementos que compõem essa gramática que irá facilitar o narrador audiovisual em seu discurso. Vejamos: a posição Zenital – A câmera fica posicionada a 90º do solo. Tudo é visto de cima para baixo na posição do Zenith. Isso, por não ser uma posição usual do olhar humano provoca instabilidade no espectador que assiste a cena. Inúmeros são exemplos utilizados nos mais variados gêneros e cenas de filme como policial, de aventura, de suspense, não importa. Apenas para lembrar o uso em alguns filmes de Orson Wells ou filmes populares de aventura como “Eu sou a lenda”(2007) de Francis Lawrence e o de suspense “Sexto Sentido”(1999) de M. Night Shymalan. Um exemplo bom é no seriado “Breaking Bad” em que o personagem está fazendo um exame de ressonância magnética. A Câmera em posição zenital mostra o personagem na perspectiva do aparelho.
Anti Zenital – a câmera posicionada a 90º do solo, voltada para o céu. Provoca estranheza, instabilidade, mistério. Há um ótimo plano usado no seriado “Breaking Bad” quando um químico é contratado para montar os novos materiais de um laboratório de drogas. A câmera é colocada no interior de um tonel, em anti zenital e a tampa é aberta. Confira. Coloca o espectador na ação com estranhamento.
Over the Shoulder – aproxima-nos do personagens sem necessariamente sermos um deles. Um bom exemplo dentre milhões é o filme “Sociedade dos poetas mortos” de (1989) de Peter Weir. Oscar de melhor roteiro original (Tom Schulman). Outro bom exemplo é o filme “Os Intocáveis” de 1987 , Dir. Brian de Palma, em que o personagem lê o jornal em OTS, informando ao espectador a notícia.
Plano e Contra-plano – aproxima dois personagens, inter-relaciona-os ou gera intimidade. Coloca o espectador no seio da ação encenada. Pode ser usado alternando o tamanho do quadro, construindo uma aproximação progressiva entre os personagens: Plano Americano – Plano Próximo – C. Up.
Rente ao chão – cria curiosidade e mistério, dá grandiosidade ao elemento enquadrado. Por exemplo em cenas em que o carro para em primeiríssimo plano e o personagem desembarca. Outro bom exemplo no filme de Sergio Leone “Era uma Vez no Oeste”, um clássico do faroeste, no início do filme o personagem de Charles Bronson leva um tiro e cai saindo de quadro, deixando o espectador na dúvida sobre a sua morte. Num plano seguinte, a câmera rente ao chão, revela em Bic Close Up o olhar do personagem que então se movimenta. Em seguida, dando um salto no tempo narrativo, entra em primeiro plano rente ao chão, os pés do personagem ao lado de sua bolsa,mostrando que ele então está vivo.
Plongèe – A câmera posicionada de cima para baixo, numa angulação entre 35º a 45º obtendo a superioridade do personagem enquadrado em relação aos demais em cena. Um ótimo exemplo é o final de uma cena do filme “Maestro” Oscar de Melhor Filme, Melhor Ator , Melhor Atriz, Melhor Maquiagem e Melhor Roteiro de 2024 em que o casal se levanta da mesa e corre levando a câmera a outro espaço dramático e saltando no tempo. Este plano tem um enquadramento quase zenital.
Contra Plongée – a câmera posicionada de baixo para cima, numa angulação entre 35º a 45º colocando o personagem numa posição de inferioridade na cena.
Um bom exemplo dessa situação é o do filme “Relatos Selvagens” e Dir. Damián Szifron , em que a câmera é colocada como se estivesse dentro de um bueiro na rua na posição contra plongée, enquadrando a grade do bueiro com uma multa. O personagem de Ricardo Da Rin entra em quadro e o foco transfere para ele, revelando a multa que levara.
Pesquise e veja como você pode melhorar a narrativa do seu filme. Mas atenção! Não faça escolhas estéticas, plásticas. O posicionamento da câmera deve corresponder uma intenção narrativa.
Jorge Monclar – Diretor de Fotografia / Roteirista